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domingo, 12 de dezembro de 2010

Antônio Vieira, um Indiana Jones de batina

Os estudiosos do passado das construções religiosas do Pará, durante algum tempo, alimentaram uma divergência relacionada a duas das mais belas obras barrocas de nossa região, os púlpitos da Igreja de Santo Alexandre. Uns diziam que os púlpitos tinham servido às pregações do Padre Antônio Vieira. Outros, negavam. A divergência cessou de um modo simples. Comparadas as datas, ficou evidente que Vieira saiu do Gram-Pará, antes da conclusão dos púlpitos.

Isto, no entanto, nem de longe significou que a passagem pelo Gram-Pará daquele é considerado, hoje, como a maior personalidade humana e cultural do reino português, no século XVII, não deixou rastros. Na realidade, a carreira aventurosa de Vieira marcou não apenas aqueles púlpitos, mas todo o impressionante conjunto de construções levantadas no Gram-Pará pelos jesuítas. Sem a presença dele no Estado, seria impossível explicar como a Companhia de Jesus dispôs de volumosos recursos materiais para suas construções, numa fase em que a economia oficial do Gram-Pará se sustentava apenas na coleta de drogas da floresta amazônica, como cravo, salsaparrilha, baunilha e cacau.

Os jesuítas dispuseram de tantos recursos que o conjunto arquitetônico de Santo Alexandre foi composto de uma igreja com altares pintados a ouro, e, ainda, de um colégio com instalações imensas e variadas. Mais tarde, uma parte destas instalações serviu como Seminário Metropolitano e outra parte, como Palácio do Arcebispo do Pará. Os jesuítas também: 1) levantaram a igreja - hoje desaparecida - do Rosário dos Homens Brancos, no atual Largo do Carmo; 2) reconstruíram a capela que deu origem à Catedral; 3) erigiram a Igreja Mãe de Deus, em Vigia; 4) e, iniciaram, lá, a Igreja de Pedras.

Os recursos para estas obras se acumularam através de leis que favoreceram a Companhia de Jesus, em detrimento das outras ordens religiosas, e, sobretudo dos colonos portugueses, na administração da mão-de-obra indígena, essencial nas lucrativas atividades paralelas à economia oficial, desenvolvidas na agricultura, na pecuária, na farmacologia e nas exportações ilegais. Tais leis resultaram da influência pessoal de Vieira sobre o rei Dom João IV, a quem o monarca confessava seus pecados. E a quem atribuiu missões diplomáticas delicadas, como a de tratar do financiamento de armas para garantir a independência de Portugal, em relação à Espanha.

A importância de Vieira na obtenção de recursos pelos jesuítas, no Gram-Pará, foi tão grande, que quem a percebe, ao estudar o passado daquela ordem religiosa, inevitavelmente, é levado a fazer a si mesmo a seguinte pergunta: mas, afinal o que ele veio fazer numa colônia portuguesa tão remota?

A resposta está na vida aventureira de Vieira, um verdadeiro Indiana Jones de batina.

O padre tinha 45 anos de idade quando, desembarcou, em Belém, no dia 5 de outubro de 1653. Estava, então, submetido a uma espécie de exílio político. Havia sofrido um atentado em Roma, ordenado pelo embaixador português, Duque do Infantado, cansado de ser vencido pelo jesuíta em disputas diplomáticas. Alem disto, também tinha atritos com a poderosa Inquisição portuguesa e com a própria Companhia de Jesus. Motivo: ele havia convencido o rei e outras autoridades portuguesas a moderarem a intolerância com os judeus para que, em troca, Portugal recebesse o financiamento de que necessitava para sua defesa. E mais: ele cometera a ousadia de propor um acordo teológico pelo qual os portugueses passariam a admitir o regresso dos judeus a Palestina, o surgimento de um estado judáico-católico, e, até mesmo, um novo advento de Cristo.

Pouco tempo depois de desembarcar no Gram-Pará, Vieira escreveu cartas às autoridades portuguesas diminuindo a importância da presença de outras ordens religiosas no Estado. E, desafiou os colonos - já inquietos com a presença dele - num sermão proferido durante as festas de Santo Antônio. Quando teve de ir à metrópole, para anular uma mudança prejudicial aos jesuítas, feita por pressão dos colonos no Regimento das Missões, existia, também no Gram-Pará, um clima de aberta hostilidade contra ele.

O navio em que Vieira viajou naufragou, mas ele foi salvo por um pirata holandês. Depois, o mesmo pirata o assaltou e o abandonou numa ilha chamada Graciosa. Apesar destes contratempos, quando, por fim, chegou a Portugal, o padre obteve do rei uma nova legislação sobre os índios - o Regimento de 1655 - na qual quase todos os seus pleitos foram atendidos.

Com aquele apoio, Vieira retornou ao Gram-Pará. E, conseguiu colocar sob a proteção - e a serviço - dos jesuítas nada menos que 40.000 índios apenas numa tribo, a dos Nheengaíbas.

Esta grande conquista, porém, selou o destino dele. No dia 17 de julho de 1661, os colonos portugueses o prenderam na capela de São João. E, em seguida, aos empurrões, o enfiaram numa canoa, da qual saiu apenas para subir num navio. Forçado, ele partiu definitivamente para Portugal. Mas, as profundas marcas de sua atuação já estavam impressas na saga dos construtores do Gram-Pará.

(Na próxima semana: “O massacre dos construtores jesuítas”).

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